quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Mente Humana e a Ficção

Pessoas movidas por intensa religiosidade sempre me fascinaram, em especial aqueles desconhecidos que ao invés de serem chamados profetas são apenas loucos. Fiquei imaginando como seria entrar na mente de um deles. Comecei aos poucos. Esse messias que se formava em minha cabeça havia sofrido um trauma; uma operação no cérebro contra sua vontade (lobotomia, implante de eletrodos, operação contra epilepsia... isso deixei para o leitor imaginar):

Natanael ainda se lembrava da operação. A luz forte contra os seus olhos, a agulha da anestesia atravessando a pele, a sonolência, agonia, e, sobretudo, incompreensão.

Não sabia por que estava lá, por que foi tirado da clínica de tratamento, quem eram aquelas pessoas e o que faziam. A última lembrança antes da operação foi de entrar na clínica. Colocaram-no em um quarto, estava cansado, queria dormir apesar de ser dia. Ao lado da cama, dois médicos o esperavam. Deveria ter achado estranho, mas não, provavelmente tinha sido drogado, só queria dormir. Os médicos o levaram até a cama, os sons das vozes deles estavam embaralhados, sem sentido. Ouvia as palavras mas não entendia o significado. Eles o acomodaram na cama, podia jurar que sentiu um deles colocando a mão sobre o seu ombro de maneira fraternal. Então, sentiu como se estivesse revivendo a sua infância, as noites em que a mãe, quando estava sóbria, lhe contava estórias.

Em seguida, flashes. Ainda estava deitado, mas sendo empurrado na maca através do corredor. As luzes eram fortes e tudo era branco. Vozes vinham de todos os lados, barulhos de máquinas, bips, mas nenhuma palavra era dirigida a ele.

Agulhas eram injetadas em suas veias, sentia vontade de vomitar, mas os músculos comprimiam sua garganta. Mais uma injeção e veio a escuridão. A anestesia paralisou todos os sentidos, mas por pouco tempo. Quando estava no meio da operação, abriu os olhos. Pelo reflexo no metal dos aparelhos, viu uma abertura no seu crânio, viu parte da massa encefálica.

‘O paciente acordou!’ Disse a enfermeira.

‘Aplique mais anestesia! Falei para manter controle dos...’

Tentou falar, mover-se, mas se sentia em um sonho. A anestesia voltou a fazer efeito, mas apenas parcialmente. Enquanto tinha os olhos fechados, ouvia o som metálico dos instrumentos da operação raspando contra o seu crânio, a respiração dos médicos, o próprio coração batendo devagar. Queria chorar, implorar que parassem, fazer os sons sumirem, mas estava preso em seu próprio corpo. Era como ser enterrado vivo. A única diferença era que não podia nem mesmo gritar.

Depois da agonia, veio a luz. Paz! Esta era a única palavra capaz de explicar o que sentia. Tudo parecia perfeito. Aquele foi o momento em que sua vida mudou por completo. Natanael morreu, Messias nasceu. Um novo ser no mesmo corpo.

Desenvolvo mais esta estória no meu livro Conexões. O fascínio pela possibilidade de entrar nas mentes mais estranhas só aumenta. Imagino que muitos sintam o mesmo, e por que não tentar? Escrever e imaginar são atividades que certamente só vão enriquecer a sua vida, em especial em um daqueles momentos entediantes como quando estamos esperando ônibus, metro, uma outra pessoal, ou simplesmente presos no engarrafamento ou quando a vida parece tão monótona. Outra tema que me fascina é a mente de um guerrilheiro. Como ele vê a floresta/deserto/cidade ao seu redor? O que o motiva a se sacrificar, a suportar a chuva, sol, dias sem comida e esquecer completamente os mais simples confortos? Qual vontade o move, como essa vontade se torna tão forte?


Quer saber algumas dicas de como escrever e publicar um livro? Acesse:

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Escrevendo

Alguns dizem psicografar. Recebem espíritos que guiam sua mente na construção de livros que eles ignoram o conteúdo. Alguns podem até mesmo escolher o espírito que neles irá encarnar (será que no futuro alguém irá produzir Harry Potter 23; Os Lusíadas 2 – A Missão; ou A Volta de Dom Casmurro?).

Eu só escrevo. Mas sei que é possível através de escrita entrar em umbrais mais interessantes do que a estética dos espíritos nos mostra. Não que os tenha alcançado, mas qualquer expressão artística pode nos libertar das banalidades do dia a dia e nos lançar no profundo esquecimento das sensações corriqueiras. Parar de pensar nos problemas, parar de relembrar o dia, esquecer os incômodos e deixar alguma parte mais remota preencher nossos pensamentos.

Assumir o irreal é algo comum aos atores. Eles, todos pensam, literalmente encarnam os seus personagens, são cruéis um dia e no outro interpretam um amante (dizem que Val Kilmer ao interpretar Jim Morrisson exigia ser chamado por “Jim” no estúdio). Mas o ator, apesar de viver sua criação, algo que o escritor não consegue, segue um plano. O escritor tem diante dele o desconhecido, e com isso o ilimitado, pois escrever permite viver outro corpo, outra mente, sentir lugares extintos, tocar objetos irreais, ter relações que nunca tivemos. Nos permite mergulhar na mente de um fanático, nos bocejos de um promotor corrupto ou destroçar um cadáver a procura de um fio de ouro que caiu na última refeição do defunto. A literatura, que é uma expressão tão intimista, onde o autor prescinde do contato direto com o público, nos permite explorar os nossos limites pessoais. Os limites da literatura são, na verdade, os limites do autor e do leitor, da nossa pobreza, da miséria do mundo.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quando a Ciência vai Além da Ficção

Ainda que antigamente (dos egípcios aos gregos) se acreditasse que o coração abrigava as emoções e pensamentos, o cérebro é hoje o órgão que mais nos fascina. Afinal, nem todo o progresso da ciência e da tecnologia nos permitiram conhecê-lo totalmente. Na verdade, quanto mais as pesquisas avançam, mais percebemos que ainda estamos dando os primeiros passos nesse incrível universo que é o cérebro.

Mas o ser humano não se move apenas por curiosidade. Como disse o escritor de ficção C. S. Lewis no livro A Abolição do Homen, “Cada novo poder conquistado pelo homem é também um poder do homem sobre o homem.”

Muito além de simplesmente conhecer o cérebro, queremos dominá-lo, e com isso dominarmos uns aos outros. E isso tem sido feito através do implante de eletrodos no cérebro. Esses eletrodos emitem pequenas descargas elétricas em certas partes do cérebro e podem alterar o comportamento, desenvolver certas habilidades, induzir alucinações ou estados alterados de consciência. E essas são apenas as possibilidades iniciais.

Entre 1950 e 1960, década em que as experiências começaram oficialmente, animais e seres humanos tiveram componentes eletrônicos instalados em seus cérebros. Em 1973, o Primeiro Ministro da Suécia, Olof Palme, deu permissão para que se realizasse implantes em prisioneiros. Na Áustria, prisioneiros também foram usados em experimentos, aparentando lesões cerebrais, diminuição da circulação sanguínea e falta de oxigênio no lobo frontal do cérebro, onde muitos implantes ocorrem.

No passado, as partes eletrônicas mediam alguns centímetros. Hoje em dia, elas são menores do que um grão de arroz.

Estimulando o cérebro de maneira precisa, seria possível desenvolver o raciocínio lógico ou abstrato a níveis extremos, desenvolver talentos e potencializar aptidões naturais. Talvez um sinal elétrico pudesse criar a paixão ou diminuir as emoções numa situação de risco. Podemos até nos perguntar se o fluxo da corrente elétrica poderia intensificar a vontade, ou a coragem, ou mesmo excluir emoções como o ódio.

Mas quem decidiria como essa tecnologia seria usada? Será que os eletrodos poderiam ser implantados no cérebro por medida judicial para curar criminosos, reabilitar jogadores compulsivos ou assassinos em série? Poderíamos mesmo ir além e implantar eletrodos em potenciais criminosos, diminuindo a criminalidade a quase zero?

Estas são questões difíceis parecem tiradas dos livros de ficção científica, no entanto, toda a tecnologia que suporta essas especulações já existe. O grande público não a conhece muito bem, mas em qualquer revista científica especializada há referencias a experimentos de implante de eletrodos no cérebro humano. O que nos resta, é procurar entender melhor todas as implicações dessa tecnologia para que não sejamos surpreendidos por uma nova dolly ou hiroshima.

Caso queira saber mais sobre o assunto, trato dele no meu livro, CONEXÕES.

O Domínio da Mente

“Em uma questão de poucos anos, a TNA irá oferecer uma solução segura, saudável e sem efeitos colaterais para condições mentais que hoje são tratadas com drogas pesadas.”

Estas foram as palavras de Boris Dortman, Vice-Presidente da TNA, em 1999. Naquele tempo ainda não era claro o que ele queria dizer com isso. Somente os anos iriam indicar que, por trás dessas palavras, havia um complexo e extremamente caro projeto, pouco conhecido pelo grande público, que tinha o objetivo de controlar a mente através do uso de eletrodos.

Desde meados do século 20 inúmeras cirurgias tem sido realizadas afim de implantar eletrodos no cérebro. Usados com os mais variados objetivos, os eletrodos emitem pequenas descargaras elétricas que podem alterar o comportamento de seres humanos. Mas o que aconteceria se essa técnica (controversa, perigosa, ilegal em muitos países) fosse usada para explorar os limites da mente humana? Para tentar descobrir se nós podemos desenvolver poderes paranormais?

Essa ideia é a base do livro Conexões, de Norman Lance, lançado pela Editora Planeta.